PENSAMENTOS E FRASES

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

(Jean Piaget)

sábado, 17 de setembro de 2011

Menino de engenho


Análise Literária

Narrado em 1ª pessoa por Carlos Melo (personagem), que aponta suas tensões sociais envolvidas em um ambiente de tristeza e decadência, é o primeiro livro do ciclo da cana-de-açúcar. Publicado em 1932, Menino do Engenho é a estréia em romance de José Lins do Rego e já traz os valores que o consagraram na Literatura Brasileira.Durante a década de 30 do século XX, virou moda uma produção que se preocupava em apresentar a realidade nordestina e os seus problemas, numa linguagem nova, introduzida pelos participantes da Semana de Arte Moderna de 22. José Lins do Rego seria o melhor representante dessa vertente, se certas qualidades suas não atenuassem fortemente o tom crítico esperado na época. 

A intenção do autor ao elaborar a obra Menino de Engenho, era escrever a biografia de seu avô, o coronel José Paulino, que considerava uma figura das mais representativas da realidade patriarcal nordestina. Seria também a autobiografia das cenas de sua infância, que ainda estavam marcadas em sua mente. Mas o que se constata é que o biógrafo foi superado pela imaginação criadora do romancista: a realidade bruta é recriada através da criatividade do gênero nordestino.
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Escritor paraibano, incluído nos manuais de literatura como um dos principais representantes do regionalismo nordestino, José Lins do Rego (1901 - 1957) considerou que a primeira fase de sua produção, que chamou de "ciclo da cana-de-açúcar", incluía "Menino de Engenho", "Doidinho", "Banguê", "Usina" e "Fogo Morto". 


Publicado em 1932 e livro de estreia do autor, "Menino de Engenho" tem como narrador-protagonista Carlos Melo. Chamado de Carlinhos pela família, ele conta a sua infância no engenho Santa Rosa, para onde vai após um começo de narrativa trágico: quando tinha quatro anos, o pai assassina a mãe e é internado num hospício.
Propriedade do avô materno, o Coronel José Paulino, o engenho Santa Rosa é onde Carlinhos vai conhecer o mundo. Trata-se de um local marcado pelas dualidades, como o bom comportamento do protagonista com os adultos e a peraltice com as crianças. Isso sem contar sua simpatia pelos humildes empregados. Por isso, chegou a pedir ao cangaceiro Antônio Silvino que o levasse com ele para lutar pelos mais pobres.
Universo dos engenhos de açúcar
O romance também relata o amadurecimento emocional de Carlinhos. Apaixona-se primeiro por duas primas, Lili, que falece ainda criança, e Maria Clara, que morava em Recife e foi passar apenas alguns dias de férias no engenho. Com o casamento da tia Maria, o menino passou a ser cuidado pela tia Sinhazinha, bem mais séria e distante.
A repressão o levou a um estado maior de libertinagem, principalmente sexual. Quando contraiu uma doença venérea aos 12 anos, com Zefá Cajá, a família decidiu enviá-lo a um colégio interno, encerrando o livro, marcado pelo universo sócio-econômico dos engenhos de açúcar, como o misticismo, a religiosidade popular, o cangaço e a atmosfera de decadência de um império econômico.

Muito mais do que uma narrativa estruturalmente delineada, a obra apresenta uma reunião de flashes do passado do próprio autor. Há um notório clima de saudosismo na forma de narrar os episódios. E isso o distancia, por exemplo, de textos de maior crítica social, como "São Bernardo" ou "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Canto de saudosismo
Criança da cidade, asmática e mimada pelo histórico familiar complicado, Carlinhos passa boa parte do tempo sozinho, caçando passarinhos e aprendendo a se relacionar com o ambiente rural, que vai descobrindo lentamente. Nessa monotonia, o relato de uma enchente, com suas consequências trágicas, representa, sob um prisma infantil e ingênuo, algo que introduz novidades no cotidiano.

O romance pode ser entendido como um canto de saudosismo aos engenhos, caracterizados pelo método de produção de açúcar de cana de forma artesanal. Os engenhos foram depois substituídos pelas usinas, onde o sistema industrial predomina.
Com "Menino de Engenho", José Lins do Rego faz uma ode a uma realidade que já na sua época não existia mais. Com o avanço da civilização industrial, deixam de acontecer as brincadeiras conjuntas entre filhos de proprietários e empregados, as conversas com negras nas cozinhas, as histórias fantásticas e folclóricas e os feitos políticos regados a negociações escusas e balas. Começa a nascer um novo Brasil, no qual as narrativas de Carlinhos são apenas um rito iniciático nordestino permeado de um tom memorialista romântico.
*Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção Brasil).

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