Análise
Literária
Narrado em 1ª pessoa por
Carlos Melo (personagem), que aponta suas tensões sociais envolvidas em um
ambiente de tristeza e decadência, é o primeiro livro do ciclo da
cana-de-açúcar. Publicado em 1932, Menino do Engenho é a estréia em romance de
José Lins do Rego e já traz os valores que o consagraram na Literatura
Brasileira.Durante a década de 30 do século XX, virou moda uma produção que se
preocupava em apresentar a realidade nordestina e os seus problemas, numa
linguagem nova, introduzida pelos participantes da Semana de Arte Moderna de
22. José Lins do Rego seria o melhor representante dessa vertente, se certas
qualidades suas não atenuassem fortemente o tom crítico esperado na época.
A intenção do autor ao
elaborar a obra Menino de Engenho, era escrever a biografia de seu avô, o
coronel José Paulino, que considerava uma figura das mais representativas da
realidade patriarcal nordestina. Seria também a autobiografia das cenas de sua
infância, que ainda estavam marcadas em sua mente. Mas o que se constata é que
o biógrafo foi superado pela imaginação criadora do romancista: a realidade
bruta é recriada através da criatividade do gênero nordestino.
Escritor paraibano,
incluído nos manuais de literatura como um dos principais representantes do regionalismo nordestino, José Lins do Rego (1901 - 1957) considerou que a primeira fase de sua
produção, que chamou de "ciclo da cana-de-açúcar", incluía
"Menino de Engenho", "Doidinho", "Banguê",
"Usina" e "Fogo Morto".
Publicado em 1932 e livro de estreia do autor, "Menino de Engenho" tem como narrador-protagonista Carlos Melo. Chamado de Carlinhos pela família, ele conta a sua infância no engenho Santa Rosa, para onde vai após um começo de narrativa trágico: quando tinha quatro anos, o pai assassina a mãe e é internado num hospício.
Propriedade do avô
materno, o Coronel José Paulino, o engenho Santa Rosa é onde Carlinhos vai
conhecer o mundo. Trata-se de um local marcado pelas dualidades, como o bom
comportamento do protagonista com os adultos e a peraltice com as crianças.
Isso sem contar sua simpatia pelos humildes empregados. Por isso, chegou a
pedir ao cangaceiro Antônio Silvino que o levasse com ele para lutar pelos mais
pobres.
Universo dos engenhos de
açúcar
O romance também
relata o amadurecimento emocional de Carlinhos. Apaixona-se primeiro por duas
primas, Lili, que falece ainda criança, e Maria Clara, que morava em Recife e
foi passar apenas alguns dias de férias no engenho. Com o casamento da tia
Maria, o menino passou a ser cuidado pela tia Sinhazinha, bem mais séria e
distante.
A repressão o levou
a um estado maior de libertinagem, principalmente sexual. Quando contraiu uma
doença venérea aos 12 anos, com Zefá Cajá, a família decidiu enviá-lo a um
colégio interno, encerrando o livro, marcado pelo universo sócio-econômico dos
engenhos de açúcar, como o misticismo, a religiosidade popular, o cangaço e a
atmosfera de decadência de um império econômico.
Muito mais do que uma narrativa estruturalmente delineada, a obra apresenta uma reunião de flashes do passado do próprio autor. Há um notório clima de saudosismo na forma de narrar os episódios. E isso o distancia, por exemplo, de textos de maior crítica social, como "São Bernardo" ou "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Muito mais do que uma narrativa estruturalmente delineada, a obra apresenta uma reunião de flashes do passado do próprio autor. Há um notório clima de saudosismo na forma de narrar os episódios. E isso o distancia, por exemplo, de textos de maior crítica social, como "São Bernardo" ou "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Canto de saudosismo
Criança da cidade, asmática e mimada pelo histórico
familiar complicado, Carlinhos passa boa parte do tempo sozinho, caçando
passarinhos e aprendendo a se relacionar com o ambiente rural, que vai
descobrindo lentamente. Nessa monotonia, o relato de uma enchente, com suas
consequências trágicas, representa, sob um prisma infantil e ingênuo, algo que
introduz novidades no cotidiano.
O romance pode ser entendido como um canto de saudosismo aos engenhos, caracterizados pelo método de produção de açúcar de cana de forma artesanal. Os engenhos foram depois substituídos pelas usinas, onde o sistema industrial predomina.
O romance pode ser entendido como um canto de saudosismo aos engenhos, caracterizados pelo método de produção de açúcar de cana de forma artesanal. Os engenhos foram depois substituídos pelas usinas, onde o sistema industrial predomina.
Com "Menino de Engenho", José Lins do
Rego faz uma ode a uma realidade que já na sua época não existia mais. Com o
avanço da civilização industrial, deixam de acontecer as brincadeiras conjuntas
entre filhos de proprietários e empregados, as conversas com negras nas
cozinhas, as histórias fantásticas e folclóricas e os feitos políticos regados
a negociações escusas e balas. Começa a nascer um novo Brasil, no qual as
narrativas de Carlinhos são apenas um rito iniciático nordestino permeado de um
tom memorialista romântico.
*Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em artes pelo
Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte
e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção
Brasil).
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