PENSAMENTOS E FRASES

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

(Jean Piaget)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Concretismo e Tropicália

Concretismo

Esse material foi retirado do livro “Literatura brasileira” de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


Seja marginal seja herói (1968), de Hé­lio Oiticica, artista plástico neoconcre-to, expõe de forma sintética um dos di­lemas que se colo­cavam na vida polí­tica e cultural do Brasil nas décadas de 1960 e 70.


TENDÊNCIAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA

Duas são as marcas principais da cultura brasileira das últimas décadas do século XX: a efemeridade e a mistura de tendências artístico-culturais. Trata-se de um período fértil, com o lançamento de inúmeras revistas, manifestos e movimentos, mas em geral de curta duração. Ao mesmo tempo, verifica-se uma mistura das novas tendências com as antigas linhas de nossa tradição literária. Depois da implantação da censura a todo tipo de atividade cultural, acentuou-se o caráter dispersivo dessa literatura, que passou a contar basicamente com produções individuais.

Os anos 1950-60

     O Brasil, nos anos 50 e 60, até o golpe de 1964, viveu um período de verdadeira euforia política e econômica. Foi a época do governo democrático-populista de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que empreendeu uma política econômica industrial e desenvolvimentista.
     Propondo um Plano de Metas que permitiria ao país desenvolver cinquenta anos de sua histó­ria em cinco, Juscelino abriu as portas ao capital estrangeiro, que aqui instalou suas indústrias, aproveitando -se de nossa mão-de-obra barata. A construção de Brasília, a geração de novos empregos na indústria e no comércio, a ampliação do consumo — tudo isso criou uma atmosfera ingénua de euforia no país.
     No plano internacional, a vitória da Revolução Cubana abriu a discussão sobre as relações de força entre as grandes nações e aguçou nos países do Terceiro Mundo a consciência da necessidade de independência em relação aos Estados Unidos e à União Soviética.
     A cultura brasileira acompanhava o ritmo das mudan­ças. Novas ideias surgiam nos diferentes domínios da arte, com a Bossa Nova, o Cinema Novo, o Teatro de Arena, as vanguardas concretas na poesia e nas artes plásticas, os fes­tivais de música transmitidos pela televisão.
    Após o golpe militar de 1964, a atividade cultural do país se manteve dinâmica ainda por mais alguns anos. Sur­giu o Teatro Oficina, que encenou O rei da vela, de Oswald de Andrade; foram criados os CPCs (Centros Populares de Cultura), que visavam levar cultura para as ruas; o Tro-picalismo ganhou as rádios e a televisão. Esse período efer­vescente terminou com a decretação do AI-5, em 1968, o exílio de políticos e artistas e a instituição de uma censura prévia a eventos culturais.

O Concretismo: o poema-ícone

     O Concretismo provavelmente foi, da década de 1950 até os nossos dias, a principal corrente de vanguarda em nos­sa literatura, em virtude da influência que exerceu, e ainda exerce hoje, sobre sucessivos grupos de poetas, artistas plásti­cos e músicos.
     O movimento, iniciado em 1956, teve a liderança de três poetas paulistas: Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Como porta-voz de suas ideias, o grupo criou a revista Noigandres.
     Os poetas concretos, a exemplo de João Cabral de Melo Neto, pregam o fim da poesia intimista e o desapareci­mento do eu lírico, além de propor uma concepção poética baseada na geometrização e visualização da linguagem.
     Para isso, retomam certos procedimentos adotados pe­las correntes de vanguarda do começo do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, e dão continuidade a certas experiências formais já feitas por Murilo Mendes, Drummond e João Cabral de Melo Neto.



    Rompendo com a estrutura discursiva do verso tradicional, os concretistas procuram valer-se de materiais gráficos e visuais e criar uma poesia urbana, capaz de captar e transmitir a realidade das grandes cidades, com seus anúncios propagandísticos, outdoors e néon.
     Os recursos da poesia concretista são os mais variados: vão de experiências sonoras, com alite­rações e paronomásias, até o emprego de caracteres tipográficos de diferentes formas e tamanhos; da diagramação do texto na página até a criação de neologismos. O poema assume então a forma de cartaz, de cartão, de anúncio, de dobradura, de fotografia, de colagem; enfim, a forma de um objeto qualquer da produção industrial. E o poeta se transforma num artista gráfico, num artesão sintonizado com o seu tempo. Observe:

A poesia-práxis e outras concretudes

     Os poetas do Rio de Janeiro estiveram durante algum tempo ligados ao grupo concretista de São Paulo. Na década de 1960, entretanto, o Rio procurou desenvolver o seu próprio Concretismo. Em 1959, por exemplo, motivados pela exposição de arte realizada no Museu de Arte Moderna, poetas e artistas plásticos fundaram o Neoconcretismo, com a participação de Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Frans Weissmann, Hélio Oiticica, Lygia Clark e outros. O auge do movimento deu-se entre 1959 e 1962.
     Surgiram outros movimentos, como o Poema-processo, liderado por Wladimir Dias Pino, mas o principal acontecimento foi a criação, por Mário Chamie, da poesia-práxis. Ao publicar sua obra Lavra-lavro, Chamie qualificou o grupo paulista de "vanguarda velha" e propôs uma ação poética desenvolvida em três etapas: o ato de compor, a área de levantamento, o ato de consumir.
Diz o poeta:


[...] O autor práxis não escreve sobre temas. Ele parte de áreas (seja um fato externo ou emoção), pro­curando conhecer todos os signifi­cados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas, através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência.
(Apud Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasilei­ra, p. 536.)







O bicho (1960), de Lygia Clark, escultura em metal que deve ser manipulada pelo público.

Eis um fragmento do poema 'Lavra Dor', de Mário Chamie:

Não talho, o leve risco talha
a terra
e a garra vira a terra e leva
o barro
para a via, via de grama e pedra.

Nem malho, a fina serra fende
o tronco
e a foice corta o tronco e mostra
a polpa
para o dia, dia de sol e faca.

Não fundo, o raso corte trilha
o solo
e o sulco sulca o solo e rompe
o lodo
para o rio, fio de água e musgo.

Nem brando, o duro aço rasga
a carne
e o rasgo marca a face e deixa
a terra
para o cio, cio de fêmea e seiva.

( "Arado", fragmento do poema
"Lavrador", Mário Chamie)


LAVRA: Onde tendes pá, o pé e o pó, sermão da cria: tal terreiro.
DOR: Onde tenho o pó, o pé e a pá quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra.
LAVRA: Onde está o pó, tendes cãimbra; agacho dói ao rés e relva.

TROPICALISMO

Origem do tropicalismo 

O tropicalismo foi um movimento musical, que também atingiu outras esferas culturais (artes plásticas cinema, poesia), surgido no Brasil no final da década de 1960. O marco inicial foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record. 

Influências e inovações

O tropicalismo teve uma grande influência da cultura pop brasileira e internacional e de correntes de vanguarda como, por exemplo,o concretismo. O tropicalismo, também conhecido como Tropicália, foi inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas como, por exemplo, a pop art.
O tropicalismo inovou também em possibilitar um sincretismo entre vários estilos musicais como, por exemplo, rock, bossa nova, baiãosamba, bolero, entre outros.

As letras das músicas possuíam um tom poético, elaborando críticas sociais e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora e criativa.

Críticas recebidas 

O movimento tropicalista não possui como objetivo principal utilizar a música como “arma” de combate político à ditadura militar que vigorava no Brasil. Por este motivo, foi muito criticado por aqueles que defendiam as músicas de protesto. Os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era uma forma revolucionária.


Uma outra crítica que os tropicalistas receberam foi o uso de guitarras elétricas em suas músicas. Muitos músicos tradicionais e nacionalistas, acreditavam que esta era uma forte influência da cultura pop-rock americana e que prejudicava a música brasileira, denotando uma influência estrangeira não positiva.


Os principais representantes do tropicalismo foram:

- Caetano Veloso
- Gilberto Gil
- Os Mutantes
- Torquato Neto
- Tom Zé
- Jorge Bem
- Gal Gosta
- Maria Bethânia


Os discos tropicalistas que mais fizeram sucesso foram:

- TROPICÁLIA ou PANIS ET CIRCENCIS - 1968 – Mutantes
- CAETANO VELOSO – 1968
- LOUVAÇÃO - 1967 - Gilberto Gil
- A BANDA TROPICALISTA DO DUPRAT - 1968 - Rogério Duprat



Músicas tropicalistas que fizeram sucesso:

- Tropicália (Caetano Veloso, 1968)
- Alegria, Alegria (Caetano Veloso, 1968) 
- Panis et circencis (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968)
- Atrás do trio elétrico, (Caetano Veloso, 1969)
- Cadê Teresa (Jorge Ben, 1969)
- Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969)


Conclusão 
O tropicalismo foi muito importante no sentido em que serviu para modernizar a música brasileira, incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos. Neste sentido, foi um movimento cultural revolucionário, embora muito criticado no período. Influenciou as gerações musicais brasileiras nas décadas seguintes.






Nenhum comentário:

Postar um comentário