PENSAMENTOS E FRASES

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

(Jean Piaget)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Geração de 45


XIII - A Geração de 1945

Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.
A) POESIA
1. JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)
Obras principais:
Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).
- Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que a atenção, lenta, / desenrola (...)
- Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida.
- Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento: "Na paisagem do rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde a terra começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde começa o homem / naquele homem."
MORTE E VIDA SEVERINA
A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.
E não há melhor resposta 
que o espetáculo da vida: 
vê-la desfiar seu fio, 
que também se chama vida (...) 
vê-la brotar como há pouco 
em nova vida explodida; 
mesmo quando é assim pequena 
a explosão, como a ocorrida; 
mesmo quando é uma explosão 
como a de há pouco, franzina; 
mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina.

2. A POESIA CONCRETA
- A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres. 
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- Reação contra a lírica discursiva e freqüentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:
a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial; 
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b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página; 
c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto: 
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d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.
ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito 
dentro do
centro
3. FERREIRA GULLAR
Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)
- Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta. 
http://educaterra.terra.com.br/literatura/img/x.gif-Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica. 
http://educaterra.terra.com.br/literatura/img/x.gif- A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade. 
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- Em Poema sujo, as idéias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.


B) PROSA DE FICÇÃO
A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL
1) JOÃO GUIMARÃES ROSA
Obras principais:
Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia(contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).
Caraterísticas básicas:
- A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:
Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária
Observe o início de Grande sertão: veredas:
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.
- O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.
- A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico. 
- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.
Grande sertão veredas
- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim:
Plano presente:
O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.
Plano passado:
Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.
2. JOÃO UBALDO RIBEIRO (1941)
Obras principais: Sargento Getúlio (1971); Viva o povo brasileiro
Sargento Getúlio
Considerado sua obra-prima, narra a história de Getúlio, um sargento da Polícia Militar de um destacamento sediado em Aracaju, Sergipe. De família pobre, Getúlio trabalha como feirante e engraxate para sobreviver, tornando-se depois soldado. Tendo assassinado a mulher, que o traíra com outro, busca a proteção de um chefe político de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A mando dele executa "vinte trabalhos" (mortes). Mesmo pretendendo aposentar-se, aceita nova missão, a de prender, no interior, um adversário político do chefe. Cumprida a tarefa,Getúlio começa a viagem de retorno a Aracaju, momento em que se inicia a narração em primeira pessoa, que termina com a morte do protagonista.
A FICÇÃO URBANA
1. CLARICE LISPECTOR (1926-1977)
Obras principais:
Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família(contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).
Características básicas:
- É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva. 
- Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens. 
- No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior. 
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- Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.
A hora da estrela
Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e morta por um automóvel.
2. LYGIA FAGUNDES TELLES (1923)
Obras principais: PCiranda de pedra (1955); Verão no aquário (1963);Antes do baile verde (contos,1970); As meninas (romance,1973); Seminário dos ratos (1977); As horas nuas (1989). 
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- Descendente da linha aberta por Clarice Lispector, mantém o interesse pelo movimento psicológico das personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior objetividade.
 
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- Além disso, suas narrativas publicadas a partir da década de 1970, têm apresentado uma saudável abertura para uma temática social e política, conforme podemos observar especialmente em As meninas.
3. ANTONIO CALLADO (1917-199)
Obras principais: Quarup (1967), Reflexos do Baile (1975)
Quarup
- Através da trajetória de um padre, Nando, que perde a vocação religiosa, adquirindo em troca uma profunda consciência do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da sociedade brasileira dos anos de 1950 e 1960. 
- Ainda que a saída ideológica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta capítulos extraordinários, destacando-se a expedição que vai ao Xingu, demarcar o ponto central do país. O contato com os índios e as conseqüentes doenças que esses contraem são inesquecíveis e por si só legitimariam Quarup.
4. DALTON TREVISAN (1925)
Obras principais: Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal(1969); Cemitério de elefantes (1970); Os desastres do amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela, 1992).
- Sua obra é basicamente composta por contos. 
- Coloca Curitiba como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos. 
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- Seus personagens vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados, taras, compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e infelizes compõem o seu mundo ficcional.
 
- Um personagem símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre vampiro de Curitiba:
Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...
5. RUBEM FONSECA (1925)
Obras principais: Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni (romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos(romance -1988); Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos –1993), Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto(novela - 1997)
- Sua carreira iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu. 
- Normalmente, suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagenm principais ou são da polícia ou detetives particulares ou advogados criminalistas. 
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- Um dos temas dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada.
 
- O outro alvo de sua literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os protagonistas são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres parece dar-se apenas no campo sexual. 
- O que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade lingüística verdadeiramente assombrosa.


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