PENSAMENTOS E FRASES

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

(Jean Piaget)

domingo, 10 de abril de 2011

REALISMO

REALISMO
Realismo é a denominação genérica da reação aos ideias românticos, que caracterizou a segunda metade do século XIX. De fato, as profundas transformações vividas pela sociedade europeia exigiam uma nova postura diante da realidade; NÃO HAVIA MAIS ESPAÇO PARA AS EXAGERADAS IDEALIZAÇÕES ROMÂNTICAS.
Assim, o Realismo deve ser analisado a partir de um novo ponto de referência: a Europa vivia a segunda fase da Revolução Industrial e, ao mesmo tempo, conhecia o desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais. Essas transformações serviram de pano de fundo para uma reinterpretação da realidade, que gerou teorias de variadas posturas ideológicas. Numa sequência cronológica, temos:
1)  O positivismo de Auguste Comte, preocupado com o real-sensível, com o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação entre “ordem e progresso” (a expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração positivista);
2)  O socialismo científico de Karl Marx e Friedrich Engels (É uma doutrina social que foi formulada pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels que prega a socialização de todas as riquezas, o fim da religião e da propriedade privada. Hoje no Brasil tem 5 partidos que se embasam nesta teoria: PCdoB, PCB, PSOL, PSTU E PCB.), a partir da publicação do Manifesto do Partido Comunista, em 1848, que define o materialismo histórico (é um marco teórico que visa explicar as mudanças e o desenvolvimento da história, utilizando-se de fatores práticos, tecnológicos (materiais) e o modo de produção.)
3) O evolucionismo de Charles Darwin, a partir da publicação, em 1859, de A origem das espécies, livro em que são expostos os estudos sobre a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, negando, portanto, a origem divina defendida pelo cristianismo.

Refletindo essa nova ordem, foi publicado na França, em 1857, Madame Bovary, de Gustave Flaubert considerando o primeiro romance realista da literatura universal. Em 1867, é lançado Thérèse Raquin, de Émile Zola, inaugurando o romance naturalista.

O Realismo no Brasil

Acompanhando as transformações econômicas, políticas e sociais pelas quais passava a Europa, o Brasil também viveu mudanças radicais, tanto no plano econômico como no campo político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais em relação à Europa. A campanha abolicionista intensificou-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864-1870) teve como consequência o pensamento republicano – O partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra acabou -; A Monarquia, representada por D. Pedro II, no poder havia 40 anos, sofreu uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. A mão de obra escrava foi substituída pela mão de obra assalariada, representada pelas levas de imigrantes europeus que vieram trabalhar na lavoura cafeeira; teve o início então uma nova economia, voltada para o mercado externo e livre da estrutura colonialista.
A poesia do final da década de 1860 já anunciava o fim do Romantismo; Castro Alves e Sousândrade mantinham-se românticos na forma e na expressão, mas os temas que abordavam estavam voltados para a realidade político-social daquele momento. O mesmo se pode afirmar de algumas produções do romance Romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida, era o pré-realismo que se manifestava.
Na década de 1870 surgiu a chamada Escola de Recife, com, entre outros, Tobias Barreto e Sílvio Romero, cujas ideias se aproximavam do pensamento europeu. O positivismo, o evolucionismo e, principalmente, a filosofia alemã inspiravam o Realismo, encontrando ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob o signo abolicionismo, do ideal republicano e da crise da monarquia.

Os marcos

Considera-se 1881, o ano inaugural do Realismo no Brasil. Nesse ano foram publicados três narrativas que modificaram o curso de nossas letras: O Mulato, de Aluísio Azevedo, considerando o primeiro romance naturalista brasileiro; Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; o primeiro romance realista de nossa literatura; e a novela o alienista, também de Machado de Assis, publicada em capítulos em A Estação, de outubro de 1881 a março de 1882.
Na divisão tradicional da literatura brasileira, considera-se data final do Realismo o ano de 1893, em que são publicados Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa. É importante salientar que essas obras registram o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo. Basta lembrar, por exemplo, que D. Casmurro, de Machado de Assis, e de 1900, e Esaú e Jacó, do mesmo autor, e de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas” em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, foi fundada em 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do século XX, até o advento da Semana de Arte Moderna, em 1922, três estéticas se desenvolvem paralelamente – o Realismo e suas manifestações, O Simbolismo e o Pré-modernismo.

As características

As características do Realismo/Naturalismo estão intimamente ligadas ao momento histórico em que se insere esse movimento literário. Dessa forma, refletem a postura do positivismo, do socialismo e do evolucionismo, com todas as suas variantes. O objetivismo aparece como negação ao subjetivismo romântico e os mostra o homem voltado para quilo que está diante e fora dele, o não eu: o personalismo cede terreno ao universalismo. O materialismo leva à negação do sentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a volta ao passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, com o contemporâneo.
Influenciados por Hypolite Taine e sua filosofia da arte, os autores são adeptos do determinismo. Assim, para eles a obra de arte seria determinada por três fatores: meio, momento, raça. Como já se viu, o avanço das ciências influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse período.
Ideologicamente os autores dessa época são antimonárquicos e assumem claramente a defesa do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como o mulato e O cortiço, de Aluísio Azevedi, e O Ateneu, de Raul Pompeia. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis o porquê da presença constante dos triângulos amorosos, formados pelo marido traído, pela mulher adúltera e pelo amante, que é sempre “um amigo da casa”. Para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos: Bentinho/Capitu/Escobar (Dom Casmurro); Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas (Memórias póstumas de Brás Cubas); Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião (Quincas Borba).
São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia das velhas beatas. Nesse particular merece destaque o romance o mulato, de Aluísio Azevedo, em que, em meio à sociedade conservadora e preconceituosa de São Luis do Maranhão, move-se com desventura a diabólica figura do Padre Diogo, o grande vilão da história.

Quadro comparativo do Realismo e Naturalismo brasileiros
Realismo
Naturalismo
Análise do indivíduo
Análise dos agrupamentos
Valorização do indivíduo
Valorização do coletivo
Vê a sociedade de “de cima para baixo”
Vê a sociedade “de baixo para cima”
Documental
Experimental
O homem  é um ser social
O homem é um ser natural (valorização dos instintos)
Crítica a falsa moral e a excessiva religiosidade
Crítica a falsa moral e a excessiva religiosidade
Temas contemporâneos
Temas contemporâneos

Exercícios:
1ª QUESTÃO - Podemos verificar que o Realismo revela:
I.              Senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro.
II.             O retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um  sentido para o encadeamento dos fatos.
III.            Técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos  conflitos, dos êxitos e dos fracassos.

(A)   As três afirmativas forem corretas.
(B)   Apenas a afirmativa III for correta.
(C)   Três afirmativas forem incorretas.
(D)  As afirmativas II e III forem corretas.
(E)   As afirmativas I e II forem corretas.

2ª QUESTÃO - Das características abaixo, assinale a que NÃO pertence ao Realismo:

(A)   Objetivismo.
(B)   Descrições e adjetivações objetivas, tentando captar o real como ele é.
(C)   Linguagem culta e direta.
(D)  Mulheres não idealizadas, mostradas com defeitos e qualidades.
(E)   Valorização da Igreja.
Para responder às questões 3, 4 e 5, leia o trecho de "O cortiço", de Aluísio Azevedo.

            "Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama de Rita.
            - Vem pra cá... disse, um pouco rouco.
            - Espera! espera! O café está quase pronto!
            E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...)
            Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doído.
            Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno."

3ª QUESTÃO -  A atração inicial entre Rita e Jerônimo não acontece na cena descrita. Segundo o texto, pode-se inferir que ela se relaciona com uma dose de parati ou uma xícara de café?
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5ª QUESTÃO - Re-escreva somente o item que estiver correto:
"O cortiço", obra naturalista,
  • traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que se alinha à grande preocupação espiritual.
  • não pôde ser considerado um romance engajado, pois deixou de lado a análise da realidade.
  • tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas literárias que o precederam.
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6ª QUESTÃO - Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio à visão naturalista, consiste:
(A)   Na condenação do sexo e conseqüente reafirmação dos preceitos morais.
(B)   Na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena sexualidade.
(C)   Na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo.
(D)  Na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco.
(E)   Na concepção de sexo como prática humana nobre e sublime.


No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo:

Certo não lhe falta imaginação; mas  esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as  fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.



7ª QUESTÃO - Com base nesse texto, notamos que o autor:

(A)   Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por  movimentos literários específicos.
(B)   Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideais para pôr termo à falta de invenção  dos românticos.
(C)   Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à clássica.
(D)  Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada  produção dos autores.
(E)   Defende a idéia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável.

Para responder às questões 8, 9 e 10, leia o trecho de "Dom Casmurro", de Machado de Assis.

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada". Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
            Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.
            (Machado de Assis, "Dom Casmurro".)

8ª QUESTÃO - Ao afirmar que Capitu tinha olhos de "cigana oblíqua", José Dias a vê como que tipo de mulher:
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9ª QUESTÃO - Para o narrador, os olhos de Capitu eram "olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca".
O se entende por essa afirmativa? Justifique com um trecho do texto.
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10ª QUESTÃO - Todas as alternativas são verdadeiras quanto à construção do enredo de "Dom Casmurro", EXCETO:
(A)   Ausência de linearidade.
(B)   Composição através de alternâncias e digressões.
(C)   Condução da narrativa por diálogos.
(D)  Tentativa de dispersão do raciocínio do leitor.
(E)   Descrições.

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