O Romantismo no Brasil
Gonçalves Dias (Caxias MA 1823 - Baixo dos
Atins MA 1864) estudou Direito em Coimbra, Portugal, entre 1840 e 1844; lá
ocorreu sua estréia literária, em 1841, com poema dedicado à coroação do
Imperador D. Pedro II no Brasil. Em 1843, escreveria o famoso poema Canção do
Exílio. De volta ao Brasil, foi nomeado Professor de Latim e secretário do
Liceu de Niterói, e iniciou atividades no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Nos anos seguintes, aliou a intensa produção literária com o
trabalho como colaborador de vários periódicos, professor do Colégio Pedro II e
pesquisador do IHGB, que o levou a fazer várias viagens pelo interior do Brasil
e para a Europa. Em 1846, a publicação de Primeiros Cantos o consagraria como
poeta; pouco depois publicaria Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848)
e Últimos Cantos (1851). Suas Poesias Completas seriam publicadas em 1944.
Considerado o principal poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro,
Gonçalves Dias ajudou a formar, com José de Alencar, uma literatura de feição
nacional, principalmente com seus poemas de temática indigenista e patriótica.
O Romantismo no Brasil
Após 1822, cresce no
Brasil independente o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico,
exalta-se a natureza da pátria; na realidade, características já cultivadas na
Europa e que se encaixavam perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar
profundas crises sociais, financeiras e econômicas. De 1823 a 1831, o Brasil
viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a
dissolução da Assembléia Constituinte ; a Constituição outorgada; a
Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D.
Miguel; a acusação de Ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a
abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É
neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado
de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.
São palavras de Gonçalves de Magalhães:
“Não se pode lisonjear muito o Brasil de dever a Portugal sua primeira educação, tão mesquinha foi ela que bem parece Ter sido dada por mãos avaras e pobres. No começo do século atual, com as mudanças e reformas que tem experimentado o Brasil, novo aspecto apresenta a sua literatura. Uma só idéia absorve todos os pensamentos, uma idéia até então desconhecida; é a idéia da pátria; ela domina tudo, e tudo se faz por ela, ou em seu nome. Independência, liberdade, instituições sociais, reformas políticas, todas as criações necessárias em uma nova Nação, tais são os objetivos que ocupam as inteligências, que atraem a atenção de todos, e os únicos que ao povo interessam.”
Características do Romantismo
Um dos fatos mais
importantes do Romantismo foi a criação de um novo público, uma vez que a
literatura torna-se mais popular, o que não acontecia com os estilos de época
de características clássicas. Surge o romance , forma mais acessível de
manifestação literária; o teatro ganha novo impulso, abandonando as formas clássicas.
Com a formação dos primeiros cursos universitários em 1827 e com o liberalismo
burguês, dois novos elementos da sociedade brasileira representam um mercado
consumidor a ser atingido: o estudante e mulher. Com a vinda da família real, a
imprensa passa a existir no Brasil e, com ela, os folhetins, que desempenharam
importante papel no desenvolvimento no romance romântico.
No prefácio de Suspiros poéticos e saudades, Gonçalves de Magalhães nos dá uma ótima visão do que era o romantismo para um autor romântico:
“É um livro de
poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as
ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo
dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na
gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do cristianismo;
ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre os túmulos; ora enfim
refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada
da vida. Poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e pelo coração devem
ser julgadas. Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material
das estrofes, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se
apresentaram, para não destruir o acento da inspiração; além de que, a
igualdade de versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estrofes produz
uma tal monotonia, que jamais podem agradar.”
Realmente, Gonçalves
de Magalhães define o Romantismo e suas características básicas sob dois
aspectos: o de conteúdo e o de forma.
Quanto ao conteúdo,
os românticos cultivavam o nacionalismo , que se manifestava na exaltação da
natureza da pátria, no retorno ao passado histórico e na criação do herói
nacional, no caso brasileiro, o índio (o nosso cavaleiro medieval). Da exaltação
do passado histórico vem o culto à Idade Média, que, além de representar as
glórias e tradições do passado, também assume o papel de negar os valores da
Antigüidade Clássica. Da mesma forma, a natureza ora é a extensão da pátria ora
é um prolongamento do próprio poeta e seu estado emocional, um refúgio à vida
atribulada dos centros urbanos do século XIX.
Outra característica
marcante no romantismo e verdadeiro “cartão de visita” de toda a escola foi o
sentimentalismo , a valorização dos sentimentos, das emoções pessoais: é o
mundo interior que conta, o subjetivismo . e à medida que se volta para o eu,
para o individualismo, o pessoalismo, perde-se a consciência do todo, do
coletivo, do social. A constante valorização do eu gera o egocentrismo ;
os poetas românticos se colocavam como o centro do universo. É evidente que daí
surge um choque da realidade e o seu mundo. A derrota inevitável do eu leva a
um estado de frustração e tédio. Daí as seguidas e múltiplas fugas da realidade
: o álcool, o ópio, as “casa de aluguel” (prostíbulos), a saudade da infância,
a idealização da sociedade, do amor e da mulher. No entanto, essa fugas tem ida
e volta, exceção feita à maior de todas as fugas românticas: a morte.
Já ao final do
Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transformações econômicas,
políticas e sociais levam a uma literatura mais próxima da realidade; a poesia
reflete as grandes agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai,
o ideal de República. É a decadência do regime monárquico e o aparecimento da
poesia social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o realismo.
Quanto ao aspecto
formal, a literatura romântica se apresenta totalmente desvinculada dos padrões
e normas estéticas do Classicismo. O verso livre , sem métrica e estrofação, e
o verso branco , sem rima, caracterizam a poesia romântica.
Romantismo – Poesia
Aquarela do Brasil
Oh!
Oi, essas fontes murmurantes
Onde eu mato minha sede
e onde a lua vem brincar
Oi, esse brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Brasil, Brasil...
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória luz da luaToda a canção do meu amor
Oi, esse Brasil lindo e trigueiroÉ o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiroBrasil, Brasil...
Oh!
Oi, essas fontes murmurantes
Onde eu mato minha sede
e onde a lua vem brincar
Oi, esse brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Brasil, Brasil...
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória luz da luaToda a canção do meu amor
Oi, esse Brasil lindo e trigueiroÉ o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiroBrasil, Brasil...
O romantismo
se inicia no Brasil 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
Niterói – Revista Brasiliense, e no mesmo ano lança um livro de poesias
românticas intitulado Suspiros poéticos e saudades.
Em 1822, D. Pedro I concretiza um movimento que se fazia sentir, de forma mais imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A partir desse momento, o novo país necessita inserir-se no modelo moderno, acompanhando as nações independentes da Europa e América. A imagem do português conquistador deveria ser varrida; há a necessidade de auto-afirmação da pátria que se formava. O ciclo da mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra, onde buscam soluções para os problemas brasileiros, apesar de não possuir o Brasil a mesma formação social dos países industrializados da Europa, representada pelo binômio burguesia/ proletariado. A estrutura social brasileira ainda era marcada pelo binômio aristocracia/ escravo; o “ser burguês” era mais um estado de espírito, norma de comportamento, do que uma posição econômica e social.
É nesse contexto que
encontramos Gonçalves de Magalhães viajando pela Europa. Em 1836, vivendo o
momento francês, funda a revista Niterói , da qual circularam apenas dois
números, em paris. Nela, publica o “Ensaio sobre a história da literatura
brasileira”, considerado o nosso primeiro manifesto romântico:
“Não, oh!
Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar imóvel e tranqüilo,
como o colono sem ambição e sem esperança. O germe da civilização, depositado
em seu seio pela Europa, não tem dado ainda todos os frutos que deveria dar,
vícios radicais têm tolhido seu desenvolvimento. Tu afastaste do teu colo a mão
estranha que te sufocava, respira livremente, respira e cultiva as ciências, as
artes, as letras as indústrias e combate tudo o que entrevá-las pode.”
O ano de 1881 é
considerado marco final do romantismo, quando são lançados os primeiros
romances de tendência naturalista e realista (O mulato, de Aluísio Azevedo, e
Memórias de Brás Cubas , de Machado de Assis), embora desde 1870 já ocorressem
manifestações do pensamento realista na Escola de Recife, em movimento liderado
por Tobias Barreto.
AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS
Como vimos no início
do capítulo, percebe-se nitidamente uma evolução no comportamento dos autores
românticos; a comparação entre os primeiros e os últimos representantes dessa
escola revela traços peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si. No caso
brasileiro, por exemplo, há uma distância considerável entre a poesia de
Gonçalves Dias e a Castro Alves. Daí a necessidade de dividir o Romantismo em
fases ou gerações. Assim é que no Romantismo brasileiro podemos reconhecer três
gerações:
Primeira Geração –
geração nacionalista ou indianista
Marcada pela exaltação
da natureza, volta ao passado histórico, medievalismo, criação do herói
nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação de geração
indianista. O sentimentalismo e a religiosidade são outras
características presentes. Entre os principais autores podemos destacar
Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre.
Segunda Geração –
geração do “mal do século”
Fortemente
influenciada pela poesia de Lord Byron e Musset, é chamada, inclusive, de
geração byroniana. Impregnada de egocentrismo, negativismo boêmio, pessimismo,
dúvida, desilusão adolescente e tédio constante – característicos do
ultra-romantismo, o verdadeiro “mal do século”- seu tema preferido é a fuga da
realidade, que se manifesta na idealização da infância, nas virgens sonhadas e
na exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração foram Álvares de
Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
Terceira geração –
geração condoreira
Caracterizada pela
poesia social e libertária, reflete as lutas internas da Segunda metade do
reinado de D. Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influencia de Victor
Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como geração hugoana. O
termo condoreirismo é conseqüência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens
românticos : o condor, águia que habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu
principal representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e
Sousândrade.
Principais Autores Românticos
Casimiro de Abreu
Poeta brasileiro, Casimiro José Marques de Abreu nasceu em São João da Barra, no estado do Rio, em 4 de janeiro de 1837. Poeta de grande inspiração, seus versos ainda hoje apreciados, lidos com admiração. “As Primaveras”, sua coletânea de poemas, ainda continua agradando ao grande público, e as edições sucedendo. Faleceu a 19 de outubro de 1860, com a idade de 23 anos.
José Martiniano de
Alencar
Foi bacharel em direito, jornalista, professor, crítico, teatrólogo e Poeta. Escreveu sobre o pseudônimo de IG, em 1856, as “Cartas sobre a Confederação dos Tamoios”. É considerado o fundador do romance brasileiro, já que no Brasil foi o primeiro a dar ao país um verdadeiro estilo literário. Sua obra está repleta de um nacionalismo vibrante, toda ela escrita numa tentativa de nacionalismo puro, numa temática nova, muito brasileira. Publicou :
“O Guarani”, “Iracema”, “Ubirajara”, “As Minas de Prata”, “O Garatuja”, “O Ermitão da Glória”, “Lucíola”, “A Pata da Gazela”, “O Gaúcho”, “O Tronco do Ipê”, “O Sertanejo” e muitos outros. Faleceu em 1877.
Antônio Frederico
Castro Alves
Nasceu na Bahia, em 1847. É considerado um dos maiores poetas brasileiros. Em 1863, começou a participar da campanha abolicionista, escrevendo em um jornal acadêmico seus primeiros versos em defesa da abolição da escravatura: “A Canção do Africano”. Castro Alves participou ativamente das inquietações de espírito, da agitação poética e patriota e das lutas liberais que empolgavam sua geração. Em 1868 transferiu-se do Rio de Janeiro para São Paulo, onde continuou sua campanha abolicionista, declamando seus poemas antiescravista em praça pública. Foi acometido de tuberculose e um acidente ocorrido em uma caçada acabou por consumi-lo. Faleceu em 6 de junho de 1871. Deixou vasta bagagem literária, entre artigos, poesias, etc. “A Cachoeira de Paulo Afonso”, “A Revolução de Minas” ou “Gonzaga”, drama e o livro “Espumas Flutuantes”.
Manuel Antônio
Álvares de Azevedo
Poeta brasileiro nascido em São Paulo, a 12 de setembro de 1831. “Lira dos Vinte Anos” é o título de sua obra principal, deixada inédita e publicada após a sua morte ocorrida em dez de março de 1852, no Rio de Janeiro. Escreveu ainda “A Noite na Taverna”, livro de contos, e mais “Conde Lopo”, um Drama, incompleto, aliás. Deixou também traduções e comentários críticos.
Antônio Gonçalves Dias
Poeta brasileiro, nasceu no estado do Maranhão, a 10 de agosto de 1823. Em 1840 foi estudar direito em Portugal, no Colégio de Artes, e foi lá que escreveu sua famosa “Canção do Exílio”. Já formado, embarcou para o Brasil, onde permaneceu muitos anos. Em 1847, lançou “Os Primeiros Cantos” e, 1848, “Os Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão”. Em 1849, foi nomeado professor de latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Em 1851, foram publicados os “Últimos Cantos”. Em 1862, bastante enfermo , embarcou para Europa. Em 1864, voltando ao Brasil, faleceu em um naufrágio. Gonçalves Dias é o patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras.
Joaquim Manuel
Macedo
Romancista, poeta e jornalista brasileiro, nasceu em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1882. Pode ser considerado um dos pioneiros do romance no Brasil. Seu primeiro romance “A Moreninha”, lançado em 1844, até hoje é sucesso. Foi médico, professor, deputado da Assembléia Provincial e deputado federal. Escreveu também “O Forasteiro”, “O Moço Louro”, “Os Dois Amores”, “O Culto do Dever”, “A Namoradeira”, e outras obras. É patrono da cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras.
Bernardo Joaquim da
Silva Guimarães
Jornalista, professor, crítico e poeta, nasceu em Ouro Preto, em 1825. Formado em Direito, viveu a atmosfera romântica da época. Estreou com um livro de versos “Contos da Solidão” em 1852, ao qual se seguiram “Poesias”, “Folhas de Outono” e “Novas Poesias”. Bernardo Guimarães foi um dos iniciadores do regionalismo romântico com a publicação de “O Ermitão de Muquém”, lançado em 1869. Abrangendo o tema da escravidão, escreveu “Escrava Isaura” e ainda “O Garimpeiro”, e “O Seminarista”. Morreu em 1884.
Romantismo – Prosa
O início da prosa
literária brasileira ocorreu no Romantismo. Com o gradual desenvolvimento de
algumas cidades, sobre tudo o Rio de Janeiro, a cidade da corte, formou-se um
público composto basicamente de jovens da classe alta, cujo ócio permitia a
leitura de romances e folhetins.
Esse público leitor buscava na literatura apenas distração. Torcia por suas personagens, sofria com as desilusões das heroínas e tranqüilizava-se com o inevitável final feliz. E, tão logo chegava ao fim, fechava o livro esquecia-o, esperando o próximo, que lhe oferecia praticamente as mesmas emoções. O público de hoje substituiu os romances e folhetins pelas telenovelas e fotonovelas, mas ainda continua em busca de distração, passando o tempo a torcer e chorar por seus heróis...
TENDÊNCIAS DO ROMANCE ROMÂNTICO
Romance urbano
É o que desenvolve
tema ligado à vida social, principalmente do Rio de Janeiro. A variedade dos
tipos humanos, os problemas sociais e morais decorrentes
do desenvolvimento da cidade, tudo serviu de fonte para os nossos romancistas,
dentre os quais se destacam: José de Alencar (Senhora ; Lucíola), Joaquim
Manuel de Macedo (A Moreninha; O Moço Loiro) e Manuel Antônio de Almeida
(Memórias de um sargento de milícias).
Romance sertanejo ou regionalista
Atração pelo
pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior, fizeram o
autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam
distantes das cidades. Abriam-se assim, para o romantismo, o campo fecundo do
romance sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria a nossa literatura.
Nessa linha, destacam-se José de Alencar, Taunay (Inocência) e Bernardo
Guimarães (A escrava Isaura; O Seminarista).
Romance histórico
Romance histórico
Foi um dos
principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista
de fatos e personagens da nossa história, numa revalorização e
idealização de nosso passado. Nessa linha, os autores mais importantes são:
José de Alencar (O Guarani; As Minas de Prata; A guerra dos Mascates), Bernardo
Guimarães (Lendas e romances; histórias e tradições da província de Minas
Gerais) e Franklin Távora (O Matuto; Lourenço).
Romance indianista
Romance indianista
Ainda na perspectiva
de valorização de nossas origens, surge o romance indianista, tendo encontrado
sua melhor realização nas obras de José de Alencar, que idealizou a figura do
índio, exaltando-lhe a nobreza e valentia. (Ubirajara; Iracema; O Guarani).
O trecho abaixo é um
fragmento do capítulo IV de O guarani, em que Alencar descreve fisicamente
Peri.
A luta
“Quando a cavalgada
chegou à margem da clareira, aí se passava uma cena curiosa". Em pé, no
meio do espaço que formava a grande abóbora das árvores, encostado a um velho
tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica
de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma
faixa de penas escarlates, caia-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava
o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem.
Sobre a alvura
diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava como reflexos dourados,
os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos
exteriores erguidos para a fronte, a pupila negra, móbil cintilante, a boca
forte, mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto um pouco
oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.Tinha a cabeça
cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas plumas
matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham roçar com as pontas negras
o pescoço flexível.
Era de alta
estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma
axorca de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e
veloz na corrida”.(José de Alencar)
O trecho seguinte é
um fragmento do capítulo 11 de Iracema, em que Alencar descreve fisicamente a
heroína índia.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.O favo de jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do ipu, onde campeava sua guerreira tribo. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os últimos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.O favo de jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do ipu, onde campeava sua guerreira tribo. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os últimos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
( José de Alencar )
Análise dos textos
Com certeza, você
deve ter observado a força expressiva dos adjetivos, responsáveis pelo clima de
idealização da figura do índio; também deve ter percebido que o autor se
esforça para integrar o herói à natureza : são atitudes típicas do romântico.
Ao ler o romance Iracema, você perceberá, talvez com maior evidência,
essa postura de Alencar; aliás, o nome da heroína, que em tupi-guarani
significa “lábios de mel”, é um anagrama da palavra América, ou seja, a heroína
é a própria personificação da terra nova, virgem, selvagem. Uma curiosidade :
repare como Alencar tem verdadeira fixação pela descrição dos pés de seus
personagens, sempre pequenos, ágeis, delicados.
Por outro lado, ao entrarmos no século XX, notaremos uma constante preocupação de autores pré-modernistas ou modernistas em ridicularizar esse tipo de herói romântico. Busca-se, então, um herói mais próximo das realidade brasileira. Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e Macunaíma, de Mário de Andrade, são negações do Peri alencariano.
Por outro lado, ao entrarmos no século XX, notaremos uma constante preocupação de autores pré-modernistas ou modernistas em ridicularizar esse tipo de herói romântico. Busca-se, então, um herói mais próximo das realidade brasileira. Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e Macunaíma, de Mário de Andrade, são negações do Peri alencariano.
Lembrança de morrer
(fragmento)
“Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrimaEm pálpebra demente.E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro.
(...)
Só levo uma saudade – é dessas sombrasQue eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
(...)
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme aindaÉ pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
(...)
Beijarei a verdade santa e nua,Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:- Foi poeta – sonhou – e amou na vida.”
(Álvares de Azevedo)
Análise de texto
Características: sentimentalismo
(amor idealizado), fugas da realidade, saudades da infância, individualismo e
desilusão.
Romances Indianistas
Este é o gênero que
trouxe maior popularidade a Alencar. São três romances: O guarani, Iracema e
Ubirajara. Notamos neles, além do indianismo que reflete o nacionalismo e
a exaltação da natureza da pátria, uma preocupação histórica: nos dois
primeiros romances citados, Alencar mescla personagens reais com personagens
fictícios; há uma preocupação muito grande em tudo datar e localizar (Alencar
chegou a pesquisar textos quinhentistas).
Em O guarani , o
índio, individualizado em Peri, aparece civilizado, em contato com os brancos;
Alencar até o batiza, para que ele possa salvar Cecília (sem a condição de
cristão, o índio não seria confiável!). Iracema , romance baseado numa lenda do
período de formação do Ceará, retrata o nativo brasileiro – no caso, a índia –
em seu primeiro contato com o branco colonizador. Da relação entre Iracema e o
português Martim nasce Moacir, o primeiro cearense. O romance Ubirajara o índio
pré-cabralino, ou seja, o nativo americano em seu estado mais puro, anterior à chegada
do português colonizador.
FONTE: http://www.mundovestibular.com.br/articles/6517/1/Romantismo-no-Brasil/Paacutegina1.html
FONTE: http://www.mundovestibular.com.br/articles/6517/1/Romantismo-no-Brasil/Paacutegina1.html