PENSAMENTOS E FRASES

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

(Jean Piaget)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

SIMBOLISMO

SIMBOLISMO

O impressionismo foi, acima de tudo, a tentativa de integras a arte num mundo em que a multiplicidade de informações e imagens era cada vez maior, por meio da exploração de todos os efeitos visuais que o homem pudesse captar. Alguns artistas, entretanto, pretenderam desenvolver as conquistas impressionistas, acrescentando-lhes a representação do que há de irracional e espiritual no ser humano. Mais uma vez o subjetivo e o enigmático entram em cena: começa a fase dos simbolistas.
No dizer de sues adeptos, simbolismo seria a arte baseada na representação das imagens do mundo das ideias.
Eles propõem uma expressão, na pintura, que corresponda à usada na linguagem, ou seja, livre para misturar o concreto e o abstrato, o material e o ideal dentro de um todo único. Para os simbolistas, definir de forma absoluta o abjeto é destruir o prazer do conhecimento gradativo e intuitivo de sua verdadeira natureza. As coisas devem, portanto, ser apresentadas não através de uma nomeação direta e definitiva, mas por meio de símbolos. Pois o símbolo é, em si mesmo, inesgotável. (Arte dos Séculos. São Paulo: Abril Cultural, 1971. Fascículo 83).

O mundo fora dos eixos
O simbolismo reflete um momento histórico extremamente complexo, marcando a transição para o século XX e a definição de um novo mundo, que se consolidaria a partir da segunda década desse século; basta lembrar que as últimas manifestações simbolistas e as primeiras produções de vanguardas modernistas são contemporâneas da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa.
Nas duas últimas décadas do século XIX, já se percebe, em boa parte dos autores realistas, uma postura de desilusão e mesmo de frustração em consequência das Infrutíferas tentativas de transformar a sociedade industrial. O crítico Alfredo Bosi sintetiza esse clima:
Do âmago da inteligência europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito – aquele sujeito a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações.
O artista, oprimido pelo mundo material, vê-se abalado em meio a crises existenciais. Impotente para modificar o mundo exterior, a tendência natural é negá-lo e voltar-se para a realidade subjetiva. Assim, as tendências espiritualistas renascem; o subconsciente e inconsciente são valorizados, segundo a lição freudiana. O Crítico Henri Peyre afirma:
A literatura simbolista dos dois últimos decênios do século XIX prezou tudo o que era langor, cansaço de viver, isolamento de um público que ela queria manter afastado de seus arcanos, oposição à civilização tecnológica acusada de materialista.
Na Europa, as origens do Simbolismo devem ser buscadas na França, com a publicação de As flores do mal, de Baudelaire, em 1857. A denominação foi usada pela primeira vez por Jean Moréas, em 1886, em seu manifesto literário no FÍGARO LITTÉRAIRE, quando afirmou:
Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura vestir a Ideia de uma forma sensível.

Três grande poetas simbolistas da Europa: Stéphane Mallarmé, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud.

O SIMBOLISMO NO BRASIL
Os marcos
NO Brasil, duas publicações de 1983, ambas de Cruz e Sousa, são consideradas o marco inicial da estética simbolista: Missal, com seus textos, e Broquéis, com seus poemas. Estende-se até o ano de 1922, data da semana de Arte Moderna.
O Início do Simbolismo não pode, no entanto, ser identificado com o término da escola antecedente, o Realismo. Na realidade, no final do século XIX e início do século XX três tendências caminhavam paralelamente: O Realismo e suas manifestações (romance realista, romance naturalista, e poesia parnasiana); O Simbolismo, situado à margem da literatura acadêmica da época; o Pré-Modernismo, com o aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira, como Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, entre outros.
Só mesmo um movimento com amplitude da Semana de Arte Moderna poderia neutralizar todas essas estéticas e traçar novos e definitivos rumos para a nossa literatura.

Veja a linha do tempo literária:
                                                                                      
                                                                                 Três tendências caminham paralelamente
                                                                    Realismo (suas vertentes) / Simbolismo / Pré-modernismo


               1836                                                                                                                                      1922
 



   Romantismo                  Realismo – Naturalismo – Parnasianismo                    Semana de Arte Moderna
      1836                                                 1881
                                                                                       Simbolismo               Pré-Modernismo
                                                                                          1893                              1902

Principais características da estética simbolista
F A estética rejeita o cientificismo, o materialismo, o racionalismo, valorizando, em contrapartida, as manifestações metafísicas e espirituais.
F O artista simbolista volta-se para uma realidade subjetiva.
F Sublimação: a oposição entre matéria e espírito, a purificação, por meio da qual o espírito atinge as regiões etéreas, o espaço infinito.
F Os simbolistas buscam a essência do ser humano, aquilo que ele tem de mais profundo e universal – a alma, que só se liberta quando se rompe corretes que a aprisionam ao corpo, ou seja, com morte.
F Valorização do inconsciente e do subconsciente, dos estados d’alma, da busca do vago, do diáfano, do sonho e da loucura.
F Linguagem carregada de símbolos (o trópos, isto é, o “desvio”, a mudança de significado de uma palavra ou expressão), em clara oposição a uma linguagem literária mais seca e impessoal. “Sugerir, eis o símbolo” era a palavra de ordem dos poetas ismbolistas.
F Emprego de figuras como sinestesia e aliteração.
F Musicalidade: “A música acima de tudo” – Paul Verlaine.

EXERCÌCIOS
1ª Questão – (UFF – RJ) Os fragmentos abaixo situam os fundamentos teórico e filosófico de distintas correntes literárias e sua expressão no Brasil, enfatizando determinadas visões de mundo. Identifique as correntes literárias.

TEXTO A

O impacto das novas ideias, surgidas na transformação social dos fins do século XIX, foi profundo na mentalidade brasileira e teve seu papel cujo alcance não foi ainda suficientemente analisado. Ao influxo do positivismo, do evolucionismo, do darwinismo, e de tantos outros caminhos abertos ao pensamento, certos ou errados, fecundos ou infecundos, a torina do trabalho mental, entre nós, sofre uma brecha, abre-se inteiramente, desarticula-se.
Nelson Werneck Sodré
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TEXTO B

Ao final do século XIX, ao mesmo tempo em que [essa escola literária] ia conhecendo um certo desencanto em relação aos resultados sociais e humanos da pesquisa científica, desencanto que sucedeu ao prestígio do evolucionismo, do determinismo e do positivismo, assistiu a uma restauração dos valores espirituais e emocionais. Na onda deste movimento [surge] reação espiritualista ao materialismo então dominante.
José Luís Jobim e Roberto Acízeto.
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2ª Questão – (Unifap)

O verso é apenas uma formula
pálida e imprecisa
Não diz do intraduzível sentimento
da realidade latente e obsessiva
do espírito intangível
Irrelevado e esquivo
Que há em mim

NO trecho do poema “Segredo”, observa-se que a linguagem utilizada por Álvaro Cunha remete a um movimento estético-literário que valoriza a teoria das correspondências. Diante dessa afirmativa, responda as questões com convicção.

Identifique esse estilo literário. Justifique a sua escolha com duas expressões do poema.
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3ª Questão – (FGV-SP) – Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do Simbolismo.

(A)       Utiliza o valor sugestivo da música e da cor.
(B)       Dá ênfase à imaginação e à fantasia.
(C)      Procura a representação da realidade do subconsciente.
(D)      É uma atitude objetiva, em oposição ao subjetivismo dos parnasianos.
(E)       No Brasil, produziu, entre outras, a poesia de Cruz e Sousa e, em Portugal, a de Antônio Nobre.


4ª Questão – (PUC-PR) – Medeiros e Albuquerque (poeta pernambucao, 1867-1934), anunciando o Simbolismo, escreveu:

Pode a Música somente
Do Verso nas finas teias
conservar no tom fluente
tênue fantasma de ideias;
que importa a Ideia, contanto
que vibre a Forma sonora,
se da Harmonia do canto
vaga ilusão se evapora?

Nos versos lidos, o poeta defendendo valores simbolistas. Aponte a alternativa CORRETA que discrimina esses valores.

(A)       Imprecisão das ideias, verso fácil e fluente, musicalidade.
(B)       Musicalidade, pensamento esquisito, fluidez e formalismo.
(C)      Harmonia forma-conteúdo, imprecisão, verso sem rimas nem ideias fixas.
(D)      Sonoridade, ideias sobrenaturais, despreocupação com o sentido das palavras.
(E)       Sobrevalorização da sonoridade, musicalidade, sobreposição da forma à ideia.


5ª Questão – (VUNESP) – Assinale a alternativa em que se caracteriza a estética simbolista.

(A)       Culto do contraste, que opõe elementos como amor e sofrimento, vida e morte, razão e fé, numa tentativa de conciliar polos antagônicos.
(B)       Busca do equilíbrio e da simplicidade dos modelos Greco-romanos, através, sobretudo, de uma linguagem simples, porém, nobre.
(C)      Culto do sentimento nativista, que faz do homem primitivo e sua civilização um símbolo de independência espiritual, política, social e literária.
(D)      Exploração dos ecos, assonância, aliteração, numa tentativa de valorizar a sonoridade da linguagem, aproximando-a da música.
(E)       Preocupação com a perfeição formal, sobretudo com o vocabulário carregado de termos científicos, o que revela a objetividade do poeta.

sábado, 16 de abril de 2011

Falecimento de Mário Eduardo Martelotta

NOTA DE FALECIMENTO
É com extremo pesar que a Diretoria da Faculdade de Letras da UFRJ comunica o falecimento do Prof. MARIO EDUARDO TOSCANO MARTELOTTA, professor do Departamento de Linguística e Filologia da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ocorrido no dia 13 de abril de 2011.
Lamentamos o ocorrido e oferecemos aos familiares nossas condolências, bem como nossos mais estimados préstimos.   
Direção da Faculdade de Letras da UFRJ

"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós." (Amado Nervo)

http://www.letras.ufrj.br/


domingo, 10 de abril de 2011

PARNASIANISMO

PARNASIANISMO

O Início do período republicano no Brasil foi marcado, notadamente na arquitetura, pela herança do estilo clássico. Já no início do século XX, outros estilos foram sendo incorporados, resultando no ecletismo (um “estilo” proveniente da mistura de outros, que se desenvolveu na Europa em meados do século XIX, como tentativa de resolver um impasse consequente de uma batalha de expressões artísticas). Na origem, o ecletismo conciliou características clássicas com características medievalizantes, como o neogótico romântico; com o tempo, o termo ecletismo passou a denominar, principalmente na arquitetura, qualquer conciliação de estilos distintos.
O processo burguês industrial evoluía a passos largos, gerando a luta de grandes potências pelos mercados consumidores e fornecedores de matéria-prima. A unificação da Alemanha (1870) e da Itália (1871) alavancou o processo de industrialização desses países (chamados países do capitalismo tardio) e os colocou na disputa por novos mercados. Por esses motivos, a África se fragmentou e ampliaram-se as influências sobre os territórios asiáticos; desenvolveu-se, assim, a política do neocolonianismo (na África) e do imperialismo (na Ásia) e tomou corpo o fantasma de uma guerra envolvendo os países europeus.
Em consequência ocorreram duas situações distintas:
- De um lado, havia um clima de euforia motivado pelo progresso industrial e pela expansão do capitalismo, pelo aumento do consumo, pela moderna urbanização (Paris tornou-se símbolo desse novo mundo); era a consagração das soluções racionalistas e a vitória definitiva do pensamento científico, que sustentavam o avanço tecnológico (essa agitação, eufórica da sociedade burguesa seria batizada, no início do século de belle époque).
- De outro, reinava um clima de insatisfação, insegurança e pessimismo motivado pelo acirramento dos conflitos sociais; o mesmo progresso industrial que levava ao consumismo criava massas de excluídos; o movimento operário se organizou, eclodiram greves. Parte da intelectualidade começou a questionar o “paraíso” prometido pela Revolução Industrial e a crença de que a Razão e a Ciência teriam resposta para tudo.
Refletindo essa ambiguidade, a literatura, particularmente a poesia, percorreu diferentes caminhos, daí o resultando os movimentos parnasiano e simbolista.

O culto a forma
O estilo poético marcou a elite literária brasileira do fim do século XIX (entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, a maioria dos poetas se filiava ao Parnasianismo) apresenta nítida Influência francesa, como se percebe na própria denominação do movimento, que não passava de uma alusão às antologias publicadas na França com o título Parnasse contemporai (Em 1866, 1871 e 1876).
A principal característica da poesia parnasiana é a valorização da forma (o soneto, a métrica, a rima), o culto da arte pela arte, como bem define Olavo Bilac:

Profissão de Fé

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como AM prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que a lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo,
O pensamento.
Porque escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!



Vocabulário:


Profissão de fé: declaração pública de uma crença; no caso, de um conceito sobre poesia.


Ourives: aquele que trabalha com ouro (joalheiro)
Carrara: cidade italiana famosa pela qualidade de seu mármore
ônix: pedra preciosa
cinzel: instrumento de aço, cortante, usado por escultores e joalheiros
verso de ouro: último verso de cada estrofe
Rubim: variante, por nasalação, de rubi
Oficina: aqui, local de trabalho do poeta/ourives
Becerril: artesão romano
Deusa Serena, Serena Forma: a divinização da forma como objetivo da postura do poeta parnasiano, da sua fé. Nas útlima estrofes, o trabalho do poeta é visto como um sacrifício religioso.

Principais características da poética parnasiana

A poética parnasiana baseia-se no binômio objetividade temática/culto da forma, numa postura totalmente antirromântica.
Perfeição formal: forma fixa de sonetos, versos alexandrinos (doze sílabas poética) e decassílabos perfeitos, rima rica, rara e perfeita.
A objetividade temática surge como negação do sentimentalismo romântico, numa tentativa de atingir a impassibilidade e a impessoalidade.
Opunha ao subjetivismo decadente o universalismo – daí resulta numa poesia carregada de descrições objetivas e impessoais.
Retomada dos conceitos da Antiguidade clássica: racionalismo e forma perfeitas.
Poesia de meditação; filosófica, mas artificial.

Parnasianismo – ERA DAS CÚPULAS.

REALISMO

REALISMO
Realismo é a denominação genérica da reação aos ideias românticos, que caracterizou a segunda metade do século XIX. De fato, as profundas transformações vividas pela sociedade europeia exigiam uma nova postura diante da realidade; NÃO HAVIA MAIS ESPAÇO PARA AS EXAGERADAS IDEALIZAÇÕES ROMÂNTICAS.
Assim, o Realismo deve ser analisado a partir de um novo ponto de referência: a Europa vivia a segunda fase da Revolução Industrial e, ao mesmo tempo, conhecia o desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais. Essas transformações serviram de pano de fundo para uma reinterpretação da realidade, que gerou teorias de variadas posturas ideológicas. Numa sequência cronológica, temos:
1)  O positivismo de Auguste Comte, preocupado com o real-sensível, com o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação entre “ordem e progresso” (a expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração positivista);
2)  O socialismo científico de Karl Marx e Friedrich Engels (É uma doutrina social que foi formulada pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels que prega a socialização de todas as riquezas, o fim da religião e da propriedade privada. Hoje no Brasil tem 5 partidos que se embasam nesta teoria: PCdoB, PCB, PSOL, PSTU E PCB.), a partir da publicação do Manifesto do Partido Comunista, em 1848, que define o materialismo histórico (é um marco teórico que visa explicar as mudanças e o desenvolvimento da história, utilizando-se de fatores práticos, tecnológicos (materiais) e o modo de produção.)
3) O evolucionismo de Charles Darwin, a partir da publicação, em 1859, de A origem das espécies, livro em que são expostos os estudos sobre a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, negando, portanto, a origem divina defendida pelo cristianismo.

Refletindo essa nova ordem, foi publicado na França, em 1857, Madame Bovary, de Gustave Flaubert considerando o primeiro romance realista da literatura universal. Em 1867, é lançado Thérèse Raquin, de Émile Zola, inaugurando o romance naturalista.

O Realismo no Brasil

Acompanhando as transformações econômicas, políticas e sociais pelas quais passava a Europa, o Brasil também viveu mudanças radicais, tanto no plano econômico como no campo político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais em relação à Europa. A campanha abolicionista intensificou-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864-1870) teve como consequência o pensamento republicano – O partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra acabou -; A Monarquia, representada por D. Pedro II, no poder havia 40 anos, sofreu uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. A mão de obra escrava foi substituída pela mão de obra assalariada, representada pelas levas de imigrantes europeus que vieram trabalhar na lavoura cafeeira; teve o início então uma nova economia, voltada para o mercado externo e livre da estrutura colonialista.
A poesia do final da década de 1860 já anunciava o fim do Romantismo; Castro Alves e Sousândrade mantinham-se românticos na forma e na expressão, mas os temas que abordavam estavam voltados para a realidade político-social daquele momento. O mesmo se pode afirmar de algumas produções do romance Romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida, era o pré-realismo que se manifestava.
Na década de 1870 surgiu a chamada Escola de Recife, com, entre outros, Tobias Barreto e Sílvio Romero, cujas ideias se aproximavam do pensamento europeu. O positivismo, o evolucionismo e, principalmente, a filosofia alemã inspiravam o Realismo, encontrando ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob o signo abolicionismo, do ideal republicano e da crise da monarquia.

Os marcos

Considera-se 1881, o ano inaugural do Realismo no Brasil. Nesse ano foram publicados três narrativas que modificaram o curso de nossas letras: O Mulato, de Aluísio Azevedo, considerando o primeiro romance naturalista brasileiro; Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; o primeiro romance realista de nossa literatura; e a novela o alienista, também de Machado de Assis, publicada em capítulos em A Estação, de outubro de 1881 a março de 1882.
Na divisão tradicional da literatura brasileira, considera-se data final do Realismo o ano de 1893, em que são publicados Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa. É importante salientar que essas obras registram o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo. Basta lembrar, por exemplo, que D. Casmurro, de Machado de Assis, e de 1900, e Esaú e Jacó, do mesmo autor, e de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas” em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, foi fundada em 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do século XX, até o advento da Semana de Arte Moderna, em 1922, três estéticas se desenvolvem paralelamente – o Realismo e suas manifestações, O Simbolismo e o Pré-modernismo.

As características

As características do Realismo/Naturalismo estão intimamente ligadas ao momento histórico em que se insere esse movimento literário. Dessa forma, refletem a postura do positivismo, do socialismo e do evolucionismo, com todas as suas variantes. O objetivismo aparece como negação ao subjetivismo romântico e os mostra o homem voltado para quilo que está diante e fora dele, o não eu: o personalismo cede terreno ao universalismo. O materialismo leva à negação do sentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a volta ao passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, com o contemporâneo.
Influenciados por Hypolite Taine e sua filosofia da arte, os autores são adeptos do determinismo. Assim, para eles a obra de arte seria determinada por três fatores: meio, momento, raça. Como já se viu, o avanço das ciências influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse período.
Ideologicamente os autores dessa época são antimonárquicos e assumem claramente a defesa do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como o mulato e O cortiço, de Aluísio Azevedi, e O Ateneu, de Raul Pompeia. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis o porquê da presença constante dos triângulos amorosos, formados pelo marido traído, pela mulher adúltera e pelo amante, que é sempre “um amigo da casa”. Para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos: Bentinho/Capitu/Escobar (Dom Casmurro); Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas (Memórias póstumas de Brás Cubas); Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião (Quincas Borba).
São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia das velhas beatas. Nesse particular merece destaque o romance o mulato, de Aluísio Azevedo, em que, em meio à sociedade conservadora e preconceituosa de São Luis do Maranhão, move-se com desventura a diabólica figura do Padre Diogo, o grande vilão da história.

Quadro comparativo do Realismo e Naturalismo brasileiros
Realismo
Naturalismo
Análise do indivíduo
Análise dos agrupamentos
Valorização do indivíduo
Valorização do coletivo
Vê a sociedade de “de cima para baixo”
Vê a sociedade “de baixo para cima”
Documental
Experimental
O homem  é um ser social
O homem é um ser natural (valorização dos instintos)
Crítica a falsa moral e a excessiva religiosidade
Crítica a falsa moral e a excessiva religiosidade
Temas contemporâneos
Temas contemporâneos

Exercícios:
1ª QUESTÃO - Podemos verificar que o Realismo revela:
I.              Senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro.
II.             O retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um  sentido para o encadeamento dos fatos.
III.            Técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos  conflitos, dos êxitos e dos fracassos.

(A)   As três afirmativas forem corretas.
(B)   Apenas a afirmativa III for correta.
(C)   Três afirmativas forem incorretas.
(D)  As afirmativas II e III forem corretas.
(E)   As afirmativas I e II forem corretas.

2ª QUESTÃO - Das características abaixo, assinale a que NÃO pertence ao Realismo:

(A)   Objetivismo.
(B)   Descrições e adjetivações objetivas, tentando captar o real como ele é.
(C)   Linguagem culta e direta.
(D)  Mulheres não idealizadas, mostradas com defeitos e qualidades.
(E)   Valorização da Igreja.
Para responder às questões 3, 4 e 5, leia o trecho de "O cortiço", de Aluísio Azevedo.

            "Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama de Rita.
            - Vem pra cá... disse, um pouco rouco.
            - Espera! espera! O café está quase pronto!
            E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...)
            Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doído.
            Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno."

3ª QUESTÃO -  A atração inicial entre Rita e Jerônimo não acontece na cena descrita. Segundo o texto, pode-se inferir que ela se relaciona com uma dose de parati ou uma xícara de café?
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5ª QUESTÃO - Re-escreva somente o item que estiver correto:
"O cortiço", obra naturalista,
  • traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que se alinha à grande preocupação espiritual.
  • não pôde ser considerado um romance engajado, pois deixou de lado a análise da realidade.
  • tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas literárias que o precederam.
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6ª QUESTÃO - Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio à visão naturalista, consiste:
(A)   Na condenação do sexo e conseqüente reafirmação dos preceitos morais.
(B)   Na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena sexualidade.
(C)   Na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo.
(D)  Na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco.
(E)   Na concepção de sexo como prática humana nobre e sublime.


No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo:

Certo não lhe falta imaginação; mas  esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as  fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.



7ª QUESTÃO - Com base nesse texto, notamos que o autor:

(A)   Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por  movimentos literários específicos.
(B)   Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideais para pôr termo à falta de invenção  dos românticos.
(C)   Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à clássica.
(D)  Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada  produção dos autores.
(E)   Defende a idéia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável.

Para responder às questões 8, 9 e 10, leia o trecho de "Dom Casmurro", de Machado de Assis.

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada". Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
            Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.
            (Machado de Assis, "Dom Casmurro".)

8ª QUESTÃO - Ao afirmar que Capitu tinha olhos de "cigana oblíqua", José Dias a vê como que tipo de mulher:
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9ª QUESTÃO - Para o narrador, os olhos de Capitu eram "olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca".
O se entende por essa afirmativa? Justifique com um trecho do texto.
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10ª QUESTÃO - Todas as alternativas são verdadeiras quanto à construção do enredo de "Dom Casmurro", EXCETO:
(A)   Ausência de linearidade.
(B)   Composição através de alternâncias e digressões.
(C)   Condução da narrativa por diálogos.
(D)  Tentativa de dispersão do raciocínio do leitor.
(E)   Descrições.